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Nanette O´Hare e o misterioso caso do Ceifador de Chicletes

Nanette O´Hare era a filha perfeita. Melhores notas, melhor jogadora, melhor amiga. Mas, como todos sabemos nessa enigmática vida, nada é tão ideal assim. Partindo desse princípio, o livro parece seguir na descoberta do que seria uma nova protagonista: uma nova filha que foge profundamente do que se tinha como perfeito, dando palco ao melhor livro que li nos últimos anos.


De fato, superestimar algo nessa magnitude pode ser um equívoco, já que a história conta a vida dessa jovem garota que cursa o Ensino Médio e que jamais se encaixou. A triste situação de fazer aquilo que se sabe, mas não se gosta, o fato de sofrer bullying constante até de sua "melhor amiga", que estava em sua vida desde criança, mas que jamais participou dela de maneira efetiva. Tantos e tantos outros fatores que levam esse livro a um grane clichê juvenil, como também o protagonismo da jovem garota que come sozinha com o professor em sua sala, já que este também nunca se sentiu realmente incluído. Seria esse um clubinho dos excluídos? O que eu vi de tão especial nesse drama infantil dos "renegados?"


Quando sua juventude parte de um ponto onde sua "melhor amiga" era na verdade uma desconhecida, alguém que jamais seria realmente parte do que você acredita ser "seu mundo". Quando sua identidade é deturbada por sua própria perdição, já que nem mesmo as mais difíceis palavras parecem externizar tudo. Quando seus pais são seus somente naqueles afazeres em que você os orgulha. Quando te acham lésbica, estranha, esquisita por ler livros demais, por socializar de menos, por pensar de forma considerável, um livro como esse pode significar demais. Eu explico.


Todos os anos que passei foram de extrema ansiedade. Assim como Nanette, estar com um "grupo" era melhor que estar só, de certa forma. Mas jamais teríamos a chance de ser como elas. Não por sermos especiais, mas pelo fato de sempre buscar aquilo que nos diferenciava. Nisso, quando os assuntos eram sempre os mesmos sobre homens, bola etc. a chance de sair de lá na primeira oportunidade deveria ser aproveitada. Ser um fantasma por ai enquanto alimentávamos gostos alheios. E assim Nanette fez. E assim eu fiz.


Quando esta conhece Booker, porém, tudo parece mudar. Impulsionada por aquele professor que lhe dera um misterioso e pouco famoso livro "O ceifador de chicletes", a jovem garota marca um encontro que mudaria toda sua vida de uma maneira que jamais imaginaria.


Autores como Charles Bokowski, Sofócles, entre outros são alguns dos grandes nomes que traçam o caminho da tão perdida Nanette, que começa a procurar em si mesma aquilo que ela é, aquilo que poderia ser. Seu verdadeiro eu. Mas, valeria a pena?


Confiante nessa amizade, Booker veta qualquer assunto relacionado ao motivo do primeiro encontro dos dois: Aquele estranho e peculiar livro. Assim, Nanette se vê numa sinuca de bico, já que sua obsessão parece nunca cessar pela futuro daquele personagem fictício. Teria ele saído do lago? Do que ele havia desistido? Ela não sabia como conduzir nada em seu futuro, e a revolução que se formava mais a frente precisava de um catalizador para seguir, para surgir da montanha de seu próprio ser.


Pensando nisso, o misterioso autor, que agora era seu bom amigo, lhe apresenta um garoto tímido e simpático que se auto denominava Pequeno Alex. Nessa relação, Nanette viu o estopim de um novo ser. Seria para o mundo ela mesma agora? Através de uma exploração extremamente forte e intrigante, Alex conta sua história por belos poemas que revelam sua dor, e coisas que viriam a mudar a vida de Nanette para sempre.


E de fato, meus amigos, quando me vi em certos momentos, senti como se fluíssem grandes revoluções em mim. Os mesmos experimentos, as mesmas músicas, os mesmos eventos, o mesmo amor estranho e o mesmo não identificar pelo mundo são coisas que me intrigam até os dias atuais, semelhantemente a essa grande personagem de Matthew Quick.


Todas as coisas belas é uma história ficcional do mesmo autor de O lado bom da vida. Focada em narrar uma jornada de auto descobrimento, pega o leitor de maneira forte pelos cabelos, jogando-o sobre grandes nomes conhecidos por serem contra a alta-cultura, e outros que ilustram atitudes que jamais poderíamos imaginar. Recomendo esse livro com todas as forças para aqueles que jamais pertenceram a um lugar, a um objetivo. Dedico aqueles que jamais foram como os outros, jamais querem ser.


Eu, após tudo isso, fico me perguntando o que houve com Nanette, mas mais importante que isso, quero saber o que haverá com minha própria história.






Bibliografia


QUICK, Matthew. Todas as coisas belas. 1 edição. Rio de Janeiro, RJ: Editora Intrínsica, 2018.

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